Produtos chineses são mesmo de má qualidade?
Escândalos sobre produtos chineses de qualidade questionável são comuns. Já houve problemas com leite do bebê envenenado, alimentos para animais contaminados e brinquedos perigosos da China. Dúvidas são levantadas sobre as normas de fabricação no país, que se tornou a fábrica de todos os tipos de produtos para o mundo. Em defesa da China, era provavelmente inevitável que a produção crescesse tanto, assim como os problemas a ela associados, pelo menos no curto prazo. Da mesma forma, pode-se argumentar que a China está passando pelo mesmo ciclo de qualidade que ocorreu durante o desenvolvimento do Japão do pós-guerra ou na América do Norte durante o estouro de produção no final do século 19, mas em um ambiente com infinitamente mais escrutínio e crítico, dado o acesso à informação e ao conhecimento que temos hoje. Não precisamos nem comentar que todos, tanto Japão quanto América do Norte aprenderam com seus erros e hoje são sinônimo de qualidade. Mas e a qualidade dos produtos chineses?
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O aumento repentino da demanda mundial
O ano é 2001. Um crescente número de empresas ocidentais agora substituem fábricas na Europa e América, com relações de subcontratação na zona industrial emergente em torno de Guangzhou na China. Os problemas normais ao começar um negócio, tais como a obtenção de clientes ou o fornecimento de uma proposta de valor, assim como problemas burocráticos vão acontecendo.
Não só rapidamente, e aparentemente sem esforço, as empresas estrangeiras ficaram encantadas com o que encontraram na China. Fábricas faziam de tudo para agradar. Os preços são os ciclos de produção notoriamente baixos e curtos. Empresários retornaram de suas viagens iniciais para a China surpreendidos pela rapidez como as fábricas tornaram-se proficientes, além de perplexos com o quanto poderia ser feito tão bem, tão rápido, tão barato. O mundo se voltava para a China como fornecedor mundial de produtos. Dada a necessidade de atender à demanda mundial, problemas irão surgir em escala. Lembre-se: a China passava a atender o mundo inteiro.
A queda de qualidade dos produtos chineses
Com o tempo, passa a se trabalhar com um problema de queda de qualidade, já que as fábricas chinesas transformaram o que eram, de fato, os contratos baratos em relacionamentos lucrativos. O ciclo de produção visto se tornava o oposto do modelo teórico de melhoria contínua. Depois de resolver os problemas inicias e fazer produtos que as especificações internacionais pediam, a inovação dentro da fábrica se transformava em redução de custos, muitas vezes de maneiras que variavam de desagradável a perigoso. A embalagem é banalizada, formulações químicas alteradas, as normas sanitárias reduzidas, e assim por diante, uma série de degradações contínua de produtos.
Em mais um esforço para criar uma margem, aos clientes provenientes de países com forte proteção de propriedade intelectual e produtos inovadores são dados preços favoráveis na fabricação, mas apenas porque a fábrica pode vender diretamente cópias baratas para os compradores em outros países onde as patentes e marcas comerciais são ignoradas. É uma espécie de “jeitinho brasileiro”.
Como o mundo se protege de produtos chineses ruins?
A primeira linha de defesa contra produtos comprometidos são os clientes da fábrica, os importadores. No momento em que eles começam a suspeitar da fabricação chinesa dos parceiros e querem descobrir o que pode estar se desdobrando é o momento em que se tornam particularmente ansiosos para encontrar informações. E a maioria deles são exigentes com o que é encontrado. Quando as suspeitas de qualidade se tornam realidade, muitas vezes eles ficam bem infelizes com os resultados, preocupados sobre como resolver algo caro e perturbador, ainda aterrorizados sobre serem cúmplices ao vender um produto perigoso. Isto é particularmente verdade se os problemas poderiam passar despercebido pelos clientes. Melhor, em certa medida, não saber ou fingirem que não sabem nada.
Ciente destas dinâmicas, os varejistas ocidentais usam cada vez mais laboratórios próprios para teste dos produtos chineses. Mas isso, também, é mais uma formalidade do que funcionalidade, já que os testes são pela sua própria natureza mais limitados do que as formas de burlá-los. O processo assemelha-se a busca por melhorias de desempenho utilizados pelos atletas, onde alguns são pegos, mas os mais inteligentes ficam à frente usando produtos que ainda não estão na lista de proibições, fugindo do antidoping.
Produtos chineses são mesmo de má qualidade?
Seria injusto, é claro, ver todas as empresas chinesas nessa luz. Algumas estão ganhando reconhecimento internacional pela qualidade, mas em contraste, por exemplo, no Japão ou na América do Norte, este reconhecimento tem um custo para as próprias empresas, pois é acompanhado por escrutínio impopular, críticas duras e exigências. Principalmente no ramo de roupas, há uma posição muito melhor para contornar controles ambientais e normas de segurança para produtos e trabalhadores.
A maneira óbvia de limpar essa bagunça é através da divulgação ampla, mas por quem? A imprensa chinesa às vezes é reveladora, mas normalmente controlada, como são os jornalistas estrangeiros. Muitos problemas de produção são bem conhecidos nos círculos de fabricação local, mas o “acordo de cavaleiros” é vigente, e não há recompensas na China para denúncias. A maioria das pessoas não sonharia em revelar o que vêem e muitos laboratórios protegem sua reputação por se esconder, ao invés de revelar, o que provam. Como resultado, a principal fonte de descoberta virá da pior maneira possível, por parte dos consumidores que compram produtos chineses, apenas para descobrir-se suas falhas.
E no Brasil?
No Brasil, mesmo produtos importador precisam passar pelos testes do INMETRO. Praticamente todos os produtos tem um tipo de teste padronizado por eles. Além disso, eletroeletrônicos, como exemplo, tem organizações nacionais para seu controle, tais como a Anatel, que aprova ou não celulares, tablets, modems, computadores e outros para a entrada e uso no Brasil. Tais produtos dificilmente tem qualidade ruim, mesmo tendo sido fabricados na China. Afinal, dificilmente você vê alguém falando mal de um iPhone ou um tênis de marca, sendo que ambos provavelmente tem um “Made In China” em suas etiquetas.
O que acontece para no nosso país os produtos chineses ganharem má fama é principalmente pela mania brasileira de produtos pelo menor preço, mesmo que sejam de má qualidade. Já foi assim com os produtos paraguaios, que eram sinônimo de má qualidade, e hoje é assim com os produtos chineses. Mas não os oficiais, mas sim, aqueles que você encontra em lojas e vendedores ambulantes de qualidade questionável.
Logicamente, a tendência dos produtos chineses, mesmo os desconhecidos, é evoluírem. Huawei, uma fabricante de celulares chineses, começou pequena e hoje já tem aparelhos de grande qualidade. Até a Sony e Nintendo fabricam seus famosos videogames lá!
O que acho melhor para terminar este artigo se define em uma pergunta: produtos chineses são realmente ruins ou é você que está comprando só estes produtos mais baratos? Dito isso, pense bem antes de sua próxima compra. Sua “economia” poderá sair caro.
Sobre o autor
André é formado em pedagogia e gosta de educar e aprender. Encontrou através do blog Palpite Digital BR uma maneira de repassar seus conhecimentos e aprender mais sobre diversos tópicos. Além disso, ele também é um entusiasta de jogos digitais, tendo começado com um Master System 3 no início da década de 90 e indo pro mundo dos computadores ao final da década. Desde então, não parou mais e continua jogando, aprendendo, e ensinando.
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